"Ainda há pessoas que querem voltar aos tempos de Napoleão": Putin e Macron, um duelo de palavras que ecoa séculos de história
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| fonte da imagem: CNN Brasil |
Em meio a tensões geopolíticas, o presidente russo compara as ambições de Macron às de Napoleão Bonaparte, enquanto o líder francês alerta sobre os riscos da Rússia para a Europa.
Era uma manhã fria em Moscou quando abri meu laptop e me deparei com as manchetes do dia. "Putin compara Macron a Napoleão", lia uma delas. A notícia me fez parar por um momento, refletindo sobre o peso histórico daquela comparação. Não era apenas uma troca de farpas entre dois líderes mundiais; era um eco de séculos de rivalidades, ambições e tragédias que moldaram a Europa e o mundo.
A história, como sempre, se repete. Ou pelo menos parece se repetir nos discursos daqueles que a usam como arma política. No dia anterior, o presidente francês, Emmanuel Macron, havia declarado que "a Rússia é uma ameaça para a França e para a Europa". Suas palavras, duras e diretas, refletiam a crescente tensão entre o Ocidente e o Kremlin, especialmente após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022. Macron, que já foi visto como um potencial mediador entre Putin e o Ocidente, agora parecia assumir um tom mais assertivo, quase desafiador.
E então, veio a resposta de Vladimir Putin. Em um discurso carregado de ironia e referências históricas, o presidente russo comparou Macron a Napoleão Bonaparte, o imperador francês cujas campanhas expansionistas no século XIX terminaram em derrota e exílio. "Ainda há pessoas que querem voltar aos tempos de Napoleão", disse Putin, com um sorriso que parecia misturar desdém e advertência.
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| fonte da imagem: Euronews.com |
A comparação não foi feita por acaso. Napoleão é uma figura icônica na história francesa, mas também um símbolo de ambição desmedida e de queda trágica. Ao evocar seu nome, Putin não apenas questionou as intenções de Macron, mas também sugeriu que o líder francês estaria fadado ao mesmo destino de fracasso e isolamento. Era uma jogada retórica poderosa, que misturava história, política e um toque de provocação.
Enquanto lia as declarações, não pude deixar de pensar nas complexidades dessa relação entre Putin e Macron. Há alguns anos, os dois pareciam ter uma conexão quase cordial. Macron, o jovem e carismático presidente francês, chegou a convidar Putin para visitar o Palácio de Versalhes em 2017, em um gesto que muitos interpretaram como uma tentativa de reaproximação entre a Rússia e a Europa. Na época, Macron falava em "diálogo construtivo" e em "reconstruir a confiança".
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| fonte da imagem: Dailimotyon |
Mas os tempos mudaram. A invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 foi um ponto de virada, não apenas para a geopolítica global, mas também para a relação entre os dois líderes. Macron, que inicialmente tentou mediar um acordo de paz, viu suas esperanças se desfazerem diante da intransigência de Putin. Desde então, o tom do presidente francês se tornou cada vez mais crítico, culminando na recente declaração de que a Rússia representa uma "ameaça" para a França e para a Europa.
Por outro lado, Putin parece cada vez mais isolado, mas também mais determinado. Sua comparação de Macron a Napoleão reflete não apenas uma estratégia retórica, mas também uma visão de mundo na qual a Rússia é uma fortaleza sitiada, cercada por inimigos que buscam minar sua soberania e influência. Para Putin, Macron não é apenas um adversário político; é um representante de um Ocidente que ele vê como decadente e hipócrita.
Enquanto escrevo estas linhas, não consigo evitar uma sensação de tristeza. Tristeza pela forma como a história parece se repetir, com líderes que usam o passado como arma em vez de lição. Tristeza pelas vidas perdidas e pelas oportunidades desperdiçadas de diálogo e entendimento. E, acima de tudo, tristeza por ver que, em pleno século XXI, ainda estamos presos em ciclos de rivalidade e desconfiança que remontam a séculos atrás.
Mas há também uma pergunta que me persegue: o que realmente está por trás dessa troca de farpas entre Putin e Macron? Será apenas uma disputa de egos, ou há algo mais profundo em jogo?
Para entender isso, é preciso olhar além das manchetes e mergulhar no contexto histórico e geopolítico que molda essa relação. Napoleão Bonaparte, a figura evocada por Putin, não é apenas um símbolo de ambição e queda; ele também representa um momento crucial na história europeia, quando as fronteiras e alianças que conhecemos hoje começaram a tomar forma. Suas campanhas militares redesenharam o mapa da Europa, mas também deixaram um legado de nacionalismo e rivalidade que ainda ressoa nos dias de hoje.
Ao comparar Macron a Napoleão, Putin não está apenas criticando o presidente francês; ele está questionando o papel da França e da Europa no cenário global. Para Putin, a União Europeia e a OTAN são vistos como extensões de um projeto ocidental que busca conter e marginalizar a Rússia. Macron, por sua vez, vê a Rússia como uma potência revisionista, que desafia a ordem internacional e ameaça a estabilidade do continente.
É um impasse que parece não ter solução fácil. De um lado, Putin e sua visão de uma Rússia forte e independente, disposta a desafiar o Ocidente para proteger seus interesses. Do outro, Macron e sua defesa de uma Europa unida e soberana, capaz de enfrentar as ameaças do século XXI.
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| fonte da imagem: Euronews.com |
Enquanto refletia sobre tudo isso, lembrei-me de uma frase que ouvi certa vez: "A história não se repete, mas rima." Talvez seja isso que estamos vendo agora: uma rima entre o passado e o presente, entre Napoleão e Macron, entre a Rússia e a Europa.
Mas há uma diferença crucial. Napoleão viveu em uma época em que a guerra e a conquista eram vistas como instrumentos legítimos de poder. Hoje, em um mundo cada vez mais interconectado e interdependente, as consequências de um conflito entre grandes potências seriam catastróficas.
Por isso, espero que as palavras de Putin e Macron não sejam apenas um prelúdio para mais confrontos, mas um chamado para a reflexão e o diálogo. Afinal, a história não precisa se repetir. E, se aprendermos com ela, talvez possamos evitar os erros do passado e construir um futuro mais pacífico e cooperativo.
Enquanto fecho meu laptop, olho pela janela e vejo o céu cinzento de Moscou. O frio ainda está lá, mas há também um vislumbre de sol entre as nuvens. Talvez seja um sinal de esperança. Ou talvez apenas uma ilusão. De qualquer forma, uma coisa é certa: o mundo está assistindo, e o que acontecer entre Putin e Macron pode definir o rumo da história para as próximas décadas.
E, como alguém que acredita no poder das palavras e da diplomacia, espero que essa história tenha um final diferente daquele de Napoleão.
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