Síria em Transformação: Um Novo Capítulo sob Mohammed al-Bashir

 

Síria em Transformação: Um Novo Capítulo sob Mohammed al-Bashir






O governo interino se prepara para conduzir o país até março, enquanto promessas de reconstrução e esperança ecoam entre os sírios









É uma manhã ensolarada em Damasco, mas o clima no país é tudo, menos ameno. O governo interino da Síria, sob a liderança de Mohammed al-Bashir, anunciou que permanecerá no poder até 1 de março de 2024. Pude acompanhar de perto as movimentações e as reações do povo sírio, após a reunião do governo cessante com al-Bashir. O processo de transição política é complexo e repleto de simbolismos, e a incerteza é palpável nas ruas. Aqui, pretendo relatar como a esperança e o ceticismo coexistem, enquanto o futuro da Síria se delineia.

A primeira impressão que tive ao ouvir as notícias foi a de que a mudança de liderança poderia ser uma oportunidade singular para reintegrar o país após anos de guerra civil e instabilidade. Al-Bashir, um nome que ressoa nas conversas, chega ao poder em um momento crítico. O que mais me chama a atenção é a figura de al-Jolani, líder dos rebeldes, que afirmou em seu discurso recente que a “Síria será reconstruída” e que os países ocidentais “não têm nada a temer” com o novo governo. Seria ele o porta-voz de um novo amanhecer para a nação? Ou suas promessas seriam apenas palavras vazias?

Após ouvir as declarações, decidi visitar algumas áreas em Damasco para entender melhor o sentimento da população. O contraste entre as ruínas marcadas pela guerra e as esperanças de reconstrução era evidente. Enquanto caminhava pelas ruas, as marcas da guerra ainda permanecem: edifícios inacabados, escombros e uma população cansada, mas resiliente. Um comerciante local, em sua barraca, expressou sua opinião sobre a nova liderança: “Qualquer mudança é melhor do que o que tivemos até agora. Mas e se eles não cumprirem suas promessas?”

Assim que deixei a movimentação do mercado, fui atraído por uma pequena reunião de cidadãos que discutiam as recentes declarações de al-Bashir e al-Jolani. As opiniões variavam. Um jovem, de semblante sério, expressou seu ceticismo: “Promessas já ouvimos muitos e durante anos. O que precisamos é de ação, não de discursos.” A frustração estava estampada em seus olhos e em sua voz. Por outro lado, uma mulher, que parecia estar na faixa dos cinquenta anos, interveio: “Mas precisamos de uma chance. Se não acreditarmos na mudança, como podemos esperar algo diferente?”


fonte da imagem: Euronews.com




Foi interessante ver como essas duas perspectivas coexistem. Cada sírio, seja jovem ou velho, trouxe seu próprio fardo de esperanças e frustrações. Enquanto muitos veem a mudança como uma oportunidade de recomeço, outros são mais cautelosos, com temor de que promessas sejam quebradas. A instabilidade foi uma constante tão presente em suas vidas que a falta de confiança no novo governo parece quase inata.

No dia seguinte, fui a uma reunião de líderes comunitários em uma área do norte de Damasco. O tema central da discussão era o que a comunidade esperava do governo interino. Alguém levantou uma questão importante: a segurança. “Precisamos de garantia de segurança para nossos filhos e famílias antes de qualquer iniciativa de reconstrução”, ressaltou um dos presentes. Esse clamor por segurança, que foi repetido várias vezes, revelou a profundidade do sofrimento e da incerteza que muitos ainda carregam. Sem um ambiente seguro, qualquer plano de reconstrução pareceria um castelo de cartas prestes a desmoronar.

Na mesma reunião, um ex-combatente, agora envolvido em movimentos cívicos, enfatizou a importância do diálogo: “O governo não pode ser apenas uma entidade imposta. Precisamos ser ouvidos. Nossa participação é essencial para que essa transição funcione.” Ele me fez refletir sobre o papel da participação pública em um governo interino. Uma mudança de líderes pode não ser suficiente para promover a verdadeira reconstrução, a menos que haja um comprometimento genuíno com a participação popular.

As declarações de al-Jolani, que asseguram que não há temor por parte do Ocidente, suscitam um questionamento importante: realmente podemos confiar em que a mudança será acolhida internacionalmente? Em um café, ouvi um analista político local se perguntar se isso não seria uma tentativa de acalmar as tensões externas. “Os olhos do mundo estão sempre voltados para nós. A abertura para o Ocidente pode ser fundamental, mas a verdadeira questão é: o governo interino está realmente preparado para implementar as reformas necessárias?” As palavras desse analista trouxeram à tona uma questão crucial: a visão do governo interino é, de fato, compatível com a necessidade de estabilidade e segurança que a população clama?

No segundo dia, viajei para a região de Idlib, onde a presença de forças rebeldes é forte e a desconfiança em relação a um novo governo é ainda mais aguda. A comunidade ali viveu anos sob um regime insurrecional, e os relatos sobre desconfiança eram intensos. Vi um grupo de jovens rebeldes discutindo a situação atual. Um deles, de clear expressão, disse: “O que muda para nós? Estivemos lutando pela liberdade, mas agora somos colocados à mercê de um novo líder. Isso não significa que as promessas de um novo governo sejam suficientes para preencher o vazio deixado pela guerra.”

fonte da imagem: Jovem pan





Enquanto ouvia suas preocupações, percebi que a desconexão entre as promessas de al-Bashir e a realidade vivida pelas pessoas em Idlib poderia ser um desafio para sua administração. A dinâmica regional é complicada e não se pode ignorar as expectativas que vão além do simples ato de trocar de liderança. As experiências passadas moldaram as aspirações e os medos que a população agora carrega.

Na minha jornada de volta a Damasco, refleti sobre as conversas que tive. Uma coisa era clara: a sociedade síria é composta por uma tapestria vibrante de vozes que anseiam por paz, reconstrução e um futuro melhor. O governo interino de al-Bashir tem a oportunidade de ser uma força unificadora, mas isso exigirá esforços significativos. As promessas devem ser acompanhadas de ações reais que reúnam o povo e promovam um senso de pertencimento e participação.

A data de 1 de março se aproximava, e com ela, a pressão sobre al-Bashir aumentava. A população espera que o próximo capítulo da história da Síria não se resuma a mais um ciclo de promessas não cumpridas. As vozes que ouvi nas ruas, nas reuniões e nos cafés falam sobre um desejo latente por mudança. Se a reconstrução da Síria é realmente uma possibilidade real, dependerá de um governo que se comprometa a ouvir, agir e principalmente, a integrar todos os sírios nesse novo caminho.

Com isso, deixo a Síria e sua nova liderança imbuída de uma esperança renovada e da ideia de que a verdadeira reconstrução começa quando as vozes do povo são respeitadas e incluídas no processo decisório. O futuro é incerto, mas, como um sírio me disse em Damasco, “Onde há esperança, há sempre uma chance de recomeçar.”


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